segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Lisboa

Como estou a pesquisar possíveis cidades para habitar por algumas semaninhas de mochilagem pós-Madrid, a capital da terrinha esteve super em avaliação nesta minha estadia. Penso isto, porque primeiro o idioma me proporcionaria mais oportunidades de trabalhos relâmpago, interação mais instantânea com as pessoas e enfim, muito me falavam dos encantos da cidade. De fato ela tem uma energia diferente, estive hospedado no Bairro Alto, que é como a Augusta de São Paulo ou Malasaña de Madrid: o fervo! Ha! =)


Depois de acordar uma hora antes perdido com o fuso (souobozo!) e de uma viagem de 5 horas de carona com um casal que conheci na festa de ano novo, cheguei na praça Príncipe Real onde encontrei a amiga que iria me hospedar! A conheci na França mês passado e pouco antes de viajar para Portugal  descobri que ela havia mudado para  há 2 semanas! Uma feliz coincidência!! =)

Bom, vamos as impressões: num geral, metade dos portugueses não gosta dos brasileiros, e a outra metade gosta e quer saber mais sobre o Brasil atual... lidei com muitas pessoas dos 2 tipos e o primeiro grupo é tão descartável, que dá facilmente para anula-los! Ha! Por exemplo, em visita ao bairro de Belém (onde as pessoas fazem fila e pagam caro para comer o famoso Pastélzinho de Belém), resolvi fugir da pastelaria mais turística e lotada para caminhar um pouco mais e experimentar em uma mais tranquila. Lá fiquei por muito tempo conversando com o dono e alguns clientes sobre o Brasil, Dilma pra cá, Rio de Janeiro pra lá e ele me fez um "preço de estudante"! Ha! Seu filho está fazendo erasmus na Polônia e também vive a mochilar! Sorte a minha! Ha! =)


A noite é bem divertida, o Bairro Alto funciona no mesmo esquema Madrid, bares povoando ruas paralelas onde todo mundo fica caminhando a noite toda e trocando de opções. A variedade de bares vai de botecões, mais arrumadinhos a restaurantes, mas tudo muito tranquilo, com clima de "beco". As ruas são bem estreitas, cheguei a ver dois carros batendo nas esquinas porque quiseram de primeira! Deviam ser turistas... ou não! Ha!


Caminhar é uma das coisas que mais fiz, de ponta a ponta, e um dos lugares que mais gostei foi o bairro da Alfama, que lembra muito as ruas de Salvador, com um monte de "pequenas vielas" que dão em outras, que dão para intermináveis escadas, e tudo num emaranhado de prédios antigos, janelas, pessoas, etc. Por vezes andando perdido, encontras um lugar com uma vista incrível, bares super regionais, igrejas, casas de portas abertas, um emaranhando de vida!

Por exemplo, mesmo sem programar, encontrei nas andanças o Museu do Fado. Todo mundo que conversei sobre fado até então, me falou "só é bom por 5 minutos, depois enche o saco"! Ha! Para mim o museu quebrou esse preconceito que estavam me passando. Com pinturas, casas de bonecas inspiradas em bordéis e óbviamente um enorme acervo de fados com biografia dos músicos me apaixonei pelo ritmo. É algo tão sofrido e ao mesmo tempo natural, uma vibe da rua... Curti conhecer algumas biografias e imaginá-los naquelas ruas estreitas timbrando suas dores. Uma das histórias que mais me impressionou foi da Maria Severa (no dia anterior por acaso caí num largo muito pequeno  que tinha seu nome e uma placa numa casinha dizendo que ali habitou). Ela foi uma cantora super pobre e misteriosa que morreu aos 26 (idade que tenho hoje) dizendo a seguinte frase: "Morro, sem nunca ter vivido". Forte né? Então, pela noite fui a um bar chamado "Fado Vadio" e ouvi 2 fados ao vivo: um masculino e outro feminino (interpretado por uma brasileira). Ao vivo é mais interessante ainda, mas só foram 2 músicas mesmo, porque é o que as pessoas aguentam...


Outro museu que é o mais famosinho, mas vale citar porque realmente gostei do acervo é o CCB, que tem a coleção Berardo, que me explicaram que é de um milionário português que organizou exposições permanentes com seu acervo de coleções de obras contemporâneas de artistas portugueses. Vi coisas bem freetas e legais por lá, algumas que super encaixaram em contextos desta própria viagem e até coisas que viriam a acontecer. Essa abaixo é uma sessão de fotos de uma artista plástica que começou a encher sua casa com teias e caminhos de lã...


Até aqui tudo na cidade parecia super convidativo até que... comecei a reparar que encontrava as mesmas pessoas diversas vezes no dia... no começo dava aquela sensação de déjà vu, mas isso começou a ficar comum, então saquei que a movimentação da cidade é pequena... e sentindo isso pela noite também, a primeira preocupação claro que foi: não se pode ter ressaca moral neste lugar! Ha! Um puta ponto negativo para se morar!!! Ha


Você visita um museu e no dia seguinte em outro parece que conhece todo mundo, só rostos familiares! E isso não só no circuito turismo, andei muito pelas ruas e algumas pessoas diferentes que eu achava interessantes, deixaram de ser depois porque as via em diversas facetas durante !os dias seguintes! Bem clima de povoado... o que tem um lado bom e outro ruim... você pode reencontrar pessoas que queria, mas também o contrário.


Outro ponto é que a cidade parece ter uma cena jovem legal, mas o que chama mesmo a atenção é a quantidade de idosos que vive nesse emaranhado de sobe e desce, todos de bengala a passos de tartaruga subindo enormes ladeiras e escadarias. Alguns encontrei mais de uma vez, porque já estava descendo enquanto eles ainda estavam subindo! Ha!


Num geral vivi muita coisa em Lisboa... a cidade me inspirou bastante, peguei temporais de chuvas absurdas com ventos de levar todos os problemas embora, conheci pessoas, falei muito com estranhos, caminhei feito um camelo, ri bicas, tive momentos divertidos e outros bem estranhos e contraditórios... mas tudo independentemente contribuiu para que a cidade continue no pareo para um futuro pit stop!!!


Um beijaço pra GraCi, que super me acolheu nesses dias tempestuosos da encantadora Lisboa! 3 X =)