quarta-feira, 5 de setembro de 2012

a originalidade não pode ser moldada economicamente

Saiu um artigo na revista New Yorker entrevistando os criadores de "Matrix" que retornam agora no épico "Cloud Atlas" ("A viagem" no Brasil), baseado no livro de David Mitchell, que o próprio autor considerava "infilmável".

Na entrevista os irmãos Lana (antes Larry, mas não vem ao caso) e Andy Wachowisk fazem críticas vorazes ao sistema de incentivo à produção de conteúdos inovadores. Isso porque eles estão lidando com grandes estúdios, em que a incerteza de demanda existe, mas é muito menor do que para nós por exemplo, que só produzimos com incentivos diretos e ou indiretos do governo. Eles relatam que o interesse em financiar uma obra sempre vem atrelado à comparação a outro título similar já existente. No caso de "Matrix", nas conversas iniciais os produtores executivos torciam o nariz comparando a obra à "Johnny Mnemonic", que em 1995 também foi estrelado Keanu Reeves e resultou num insucesso comercial. 



Com muita conversa, batidas de pés no chão e literalmente colocar o p** na mesa, felizmente tivemos uma obra completamente diferente e que mudou não só o gênero ficção científica, como influênciou toda uma leva de "novas" experiências no cinema. "Matrix", que estreou em 31 de março de 1999 ganhou perto de meio bilhão de dólares em todo o mundo, além de quarto dos quadrados oscars.

Com "Cloud Atlas" não foi diferente, depois de anos de batalhas para produção e desenvolvimento, que foi feito em parceria com o diretor Tom Tykwer de "Corra Lola, Corra", o filme finalmente estréia em 6 de Setembro no Festival de Toronto e em 26 de Outubro no resto do mundo. Mas neste caso, o desafio não foi só o de encontrar financiamento e espaço no mercado, afinal de contas a dupla já é tratada como sinônimo de sucesso entre os grandes estúdios, e sim de adaptar uma obra complicada, que se passa em diversos séculos.


Segundo Lana "o principal desafio foi a complicada estrutura do romance: os capítulos são ordenados cronologicamente até o meio do livro, ponto em que a sequência inverte e a história começa uma série de elipses temporais infindáveis. Pensando como roteiro, seria impossível introduzir uma nova história em 90 minutos". O meio encontrado por eles foi quebrar o livro em centenas de cenas escritas em fichas coloridas e espalha-las pelo chão, com cada cor representando um personagem diferente ou período de tempo. A casa parecia "um jardim zen de cartões de índice", disse Lana. 

O autor David Mitchell que sempre afirmou que sua obra poderia ser considerada "infilmável", se encontrou com a dupla após ter conhecimento do processo e revelou que adorou a nova proposta de criação "Isso pode ser um daqueles filmes que são melhores do que o livro!" Entonces bora esperar!

terça-feira, 31 de julho de 2012

anima!

Vi alguns curtas do anima mundi neste findie. O curta "Head over Heels" foi o grande vencedor, faturando uma vaga na corrida para o oscar. A animação é realmente incrível, conta a história de um casal e suas diferenças, teve um resultado super sensível e com uma arte simples e bonita, rendeu palmas e alguns suspiros da platéia. Merecido!


Algumas outras também merecem destaque, algumas pelo humor, outras pela técnica, mas vou postar só mais algumas, mais para deixar guardadas aqui as referências!



segunda-feira, 23 de julho de 2012

pagando por sexo


Premiado autor de histórias em quadrinhos só transa com prostitutas há mais de uma década. Em um livro inteligente e engraçado, ele critica o amor romântico e defende a normalidade da prostituição.
Será minha próxima leitura. Segue texto publicado pela jornalista Eliane Brum para a revista Época, em que o autor levanta alguns mitos e reflexões em torno da prostituição.




1) Você é dono do seu corpo. Dizer “Quero transar com você porque você vai me dar dinheiro” é tão moral quanto dizer “Quero transar com você porque eu o amo”. E isso tanto para homens quanto para mulheres.
2) Os clientes não compram as prostitutas. Quando alguém compra um livro, leva-o para casa e faz o que quiser com ele, por quanto tempo quiser. Com uma prostituta, você paga para transar durante um tempo determinado, limitado por aquilo que é combinado, e depois se separa dela. Nenhum cliente faz o que quiser com uma prostituta – nem é dono dela.
3) A violência, minoritária, é tão presente no sexo pago como no sexo não pago. Existem clientes cretinos na mesma proporção que existem maridos e namorados cretinos, que ignoram os pedidos e os limites estabelecidos pelas mulheres. Assim como há aqueles que extrapolam e as espancam. Para reprimir esse comportamento, há leis. Mas, se concluirmos que devemos criminalizar ou condenar o sexo pago porque alguns homens são cretinos e outros são violentos, então é preciso criminalizar ou condenar também o casamento e o sexo não pago. Da mesma forma, com relação ao tipo de trabalho, qualquer um acharia descabido terminar com a profissão de taxista porque alguns são assaltados, feridos e até mortos por assaltantes travestidos de clientes.
4) Não são apenas as prostitutas que muitas vezes transam sem desejo. Muitas pessoas, em relacionamentos amorosos, também transam sem vontade. A frase “Não quero transar com esse cara, mas vou transar porque preciso de dinheiro” é tão moral quanto “Não quero transar agora, mas vou transar porque ele é meu namorado e eu o amo” ou “Não sinto mais desejo pelo meu marido, mas vou transar pelo bem do nosso casamento”.  
5) A prostituição não destrói a dignidade das prostitutas. A vergonha que algumas prostitutas sentem por conta da profissão é provocada pela interiorização do preconceito enfrentado na sociedade – e não pela venda do sexo em si. Assim como no passado (e ainda hoje, em alguns casos) os homossexuais sentiam vergonha, depressão, culpa e repulsa por sua orientação sexual. Isso não significava que ser gay era errado – e sim que muitos homossexuais interiorizavam os valores da cultura em que viviam, assumindo o preconceito da sociedade como vergonha e como culpa. 
6) A diferença com que a sociedade trata a prostituição masculina mostra que o preconceito, como sempre, é com relação à autonomia das mulheres. Em geral, os adversários da prostituição feminina ignoram a masculina. A razão é que os argumentos usados para condenar a prostituição feminina soariam ridículos se aplicados à masculina. Nossa cultura acredita que os homens controlam a própria sexualidade. E, se um homem se coloca em uma situação potencialmente arriscada, a sociedade compreende como um comportamento inerente à natureza masculina. Já, com relação às mulheres, não. Elas são sempre vítimas, e há sempre alguém - mesmo que outras mulheres - apto a determinar o que é melhor para elas. 
7) A prostituição é uma escolha. Setores contrários à prostituição afirmam que não há escolha real se a mulher tem de eleger entre ganhar um salário baixo em um emprego pouco valorizado ou se prostituir, assim como não haveria escolha se a mulher se prostitui supostamente porque foi abusada na infância, caso de parte das prostitutas (como de parte das mulheres). Mas uma escolha é uma escolha, ainda que seja uma escolha difícil. Dizer que adultos não teriam o direito de escolha porque tiveram uma infância difícil é um terreno perigoso. Estas mulheres que não poderiam escolher pelo sexo pago não estariam, então, aptas a fazer qualquer escolha sexual, mesmo amorosa, por causa do seu passado. Da mesma forma que a realidade impõe escolhas difíceis para ganhar a vida o tempo todo, tanto para homens como para mulheres. E do mesmo modo como há quem gosta do que faz e há quem não gosta em qualquer profissão. Todas as pessoas – e não só as prostitutas – são fruto de suas circunstâncias e do sentido que conseguiram dar ao vivido. Alguém tem o direito de determinar quais adultos estão aptos e quais não estão aptos a fazer escolhas sobre a sua própria vida, ainda que sejam escolhas que não agradem aos outros?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

CONCURSO CAIXA DE CURTAS


Meu curta está participando do "concurso caixa de curtas" na categoria ficção. O festival online é latino e contém filmes de diversas nacionalidades, tem bastante coisa interessante. 

Para quem ainda não viu, é uma boa oportunidade, para quem já viu e gostou, passa lá e dá uma forcinha! A votação vai até 22/08/2012!



domingo, 1 de julho de 2012

Violeta se fue a los cielos

Vou começar pelo final, a tela negra dos créditos permanece em silêncio, não sei por quanto tempo porque rapidamente saí da sala de cinema. Geralmente gosto de ficar ouvindo a música dos créditos até o final, muitas vezes ela foi composta especialmente para a obra, e se está naquele ponto do filme, é porque tem um papel reflexivo importante sobre tudo o que você acabou de ver, é um complemento sem imagens, a baqueta que passa para o espectador. Pois bem, o silêncio e a sensação que tive ao final de "Violeta foi para o céu" me bastou para sair rápido antes de ouvir qualquer comentário que me fizesse odiar a humanidade. Sim, porque as vezes parece que as pessoas se sentem obrigadas a emitir comentários ao final de um filme em voz alta, são os críticos da era twitter, que emitem hastags e frases curtas completamente sem contexto, que as vezes te doem a espinha ao demonstrar a total falta de sensibilidade de algumas pessoas. Pois bem, saí e nada ouvi, ufa! 



Uma coisa é fato, conheci muitas figuras interessantes espalhadas por outras culturas deste mundo e até de meu próprio país através do cinema. A sétima arte teve esse papel em minha jornada, quantas vezes fiquei fissurado por uma trilha sonora e assim conheci um grande músico, quantas vezes vi um retrato interessante sobre uma personalidade e isso me aguçou pesquisar mais sobre ela. Esse é o caso de Violeta Parra, confesso que nunca havia ouvido falar de sua música, mas que depois do filme sigo aguçado. Em um tempo em que somos borbardeados por personagens voadores, que soltam raios e camuflam suas culturas em busca de público, é bacana se deparar com figuras desconhecidas de algumas gerações e que tanto tem a mostrar. 


Em uma das cenas mais bonitas e delicadas que já vi, a personagem de Violeta chega depois de uma longa caminhada pelas colinas à casa de uma senhora que detinha um largo conhecimento de cantigas folclóricas chilenas. A pouco seu filho havia lhe perguntando "e se nunca a encontrarmos?" e ela responde "Aí as pessoas nunca vão conhecer suas músicas incríveis". Pois nessa cena, Violeta chega  justo no momento em que a matriarca está sendo colocada em um caixão. Ela assiste a cena em silêncio, em seguida vemos um gravador sendo ligado e ficamos vendo a fita rodar enquanto contemplamos o silêncio daquele momento. De fato jamais conheceremos as cantigas daquela senhora, mas a homenagem está ali feita. A cena é incrível. 

Muitos outros momentos me deixaram com a mesma sensação que neste trecho. A de leveza e ao mesmo tempo uma estranha densidade, é o que chamaria de poesia audiovisual. O filme nos transporta a construções metafóricas tão bem construídas, que dá um gás além da forte história que a personagem já carrega em si. 

sábado, 28 de abril de 2012

weekend

Se você trabalha ou tem algum envolvimento em criações artísticas, você vai entender o que digo. Sabe quando rola uma inspiração, surge uma idéia que você gosta muito, que te toca bastante, que quer conceber e desenvolver aos poucos. Pois bem, se você tarda, pelo motivo que seja, sempre rola uma hora  que ela aparece realizada por outro, seguramente não identica, mas é ela.

É estranha essa sensação, é como se não existissem idéias únicas. A verdade é que não existem mesmo. São nesses momentos que a gente constata que estamos todos vivendo em torno dos mesmos sentimentos, tendo sensações similares, o quanto a vida é limitada, quer você queira, quer não. É uma percepção rara nesses tempos em que se valoriza a falsa sensação de ser único, essa obsessão de perfil que salta da rede para a mente das pessoas.

Pois bem, ao primeiro contato com a tal obra surge uma pequena inquietude de invasão, algo como uma sensação de "roubo", um sentimento um tanto vago que não faz muito sentindo, dura pouco, mas que sim rola de leve. Em seguida rola uma certa cumplicidade, como se alguém compreendesse algo que parecia que só você compreendia, essa sensação se perpetua um pouco mais. Mas por último e mais intensa vem a sensação que de fato a obra causa, e nesse caso em você, alguém que já vivênciou aquela sensação, ou seja, uma pessoa muito crítica com relação ao tema abordado. Das duas uma, ou odeia porque não te tocou da maneira que você tocaria alguém ao reproduzir sua obra, ou você fica extremamente sensibilizado, porque alguém compreendeu de uma maneira tão única quanto a sua. Nesse caso é uma sensação ótima, indescritível!

Acabo de ver um filme bem similar a um projeto que tenho buscado apoio a um tempo. Não é o tipo que vende, não é o tipo que se realiza facilmente num país como o nosso. Como disse um personagem do filme sobre sua obra que nunca termina: "as pessoas não iriam ver". Pois olha que bonito é saber  que alguém conseguiu realizar uma obra sensível, e melhor ainda, que ela se propaga, toca pessoas com histórias similares e nos traz sensações de uma gostosa semelhança neste mundo infestado de falsos perfis.

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Antes tarde do que nunca.

Quando eu era adolescente, não existia cinema para me identificar diretamente, os jovens da telona eram interpretados por adultos de 30 anos com chiquinhas, franja ou aparelho em histórias bem, mas bem pastelonas mesmo.

Já era hora do cinema retratar essa fase tão rica de temas e possibilidades de linguagem de maneira mais fiel. Os exemplos nacionais já vem despontando a um tempo, o mais recente e bem sucedido foi "As melhores coisa do mundo" de Laís Bodanzky, que é bem legalzinho. Mas sem dúvida, o principal representante deste segmento até agora foi Jorge Furtado. Você que está acostumado a ver o nome do cineasta associado ao cultuado "Ilha das flores" deve estar injuriado com essa minha colocação! Ha!

Digo isso, porque fiz um curso com ele uma vez, e o mesmo confidenciou que quando começou a fazer cinema, o filho (Pedro Furtado) queria ser ator, mas como o menino era adolescente, não conseguia papéis pelo motivo que descrevi nas primeiras frases do post. Então ele, como roteirista/diretor, resolveu criar uma história para que o filho e outros atores jovens pudessem interpretar. Eis que surge seu primeiro filme "Houve uma vez dois verões", que é muito bom.

Ta certo que em seguida o Jorge Furtado renegou totalmente essa proposta, colocando a moda antiga o  Lázaro Ramos e a Leandra Leal para interpretar adolescentes em "O homem que copiava". Mas calma, ele ainda merece ponto nesse segmento, pois mesmo com seu filho crescido e fazendo novela das 8, ele voltou a explorar a juventude em "Meu tio matou um cara", e veja, com os então joviais, Darlan Cunha e Sophia Reis. Depois acho que ele desencanou mesmo da temática e partiu para sua consolidação como criador audiovisual, mas a meu ver ele fez as primeiras contribuições para esse novo nicho, que seguramente ainda vai render muito.

Lá fora a coisa também tem mudado, vira e mexe sempre apareceu alguma proposta nova para a juventude, mas recentemente também rolou um crescimento na proposta de ser mais fiel a esse universo, figuras como Michael Cera estão aí por isso. Hoje vi um que cumpriu bem esse papel, o longa "Submarine", que aborda de maneira inusitada as descobertas de um casal indie composto por um jovem tímido e uma namorada moderna e dominadora. Destaque para a as músicas da bela trilha composta por Alex Turner, vocalista da banda inglesa Artic Monkeys, que por dias não saíram da minha cabeça. 

Segue umas delas, com legenda em espanhol para você fazer aquelas traduções narradas de programa de rádio Love songs! Ha!