segunda-feira, 16 de março de 2015

INICIANTES

Estudando um livro de roteiro, me deparei com o exercício de descobrir qual era o meu gênero e os meus filmes preferidos. De longe já sabia que o gênero era o drama, mas o ato de esqueletar uma lista com os filmes favoritos, me fez perceber que eles diziam muito mais de mim do que imaginava. Filmes são como cápsulas que contém não só os pontos de vista dos realizadores, como também os nossos, que os escolhemos como uma boa vivência, para ser revisitada sempre que desejarmos. Neles identificamos nossos sonhos, razões, equivocos, afetos/desafetos, confusões e compreensões. Vou postá-los aos poucos aqui, nesta minha auto-cápsula, onde guardo algumas de minhas experiências pelo tempo e de meus mutáveis pontos de vista.


Desta lista, revi um deles estes dias como referência e novamente fiquei tocado, talvez por ele ser um dos mais simples e singelos, e até talvez por isso, um dos meus preferidos: "Beginners". Uma história sobre alegria, tristeza, coragem, cegueira, maturidade, encontros/desencontros e sobre como todos, não importa a idade, somos iniciantes quando se trata de olhar para dentro de si.

quarta-feira, 11 de março de 2015

IMPULSOS E RETORNOS

Retornos. Há um momento na vida em que compreende-se o significado deles, e quando o fazemos, conseguimos visualizar as portas que devemos atravessar, o que não significa conseguir atravessá-las, o que ocorre é dar-se conta de si, o que não te faz mestre de seu trajeto, mas um caminhante consciente, um ser que não mais vagueia sem saber para onde.


Há cinco anos atrás tentei ler uma obra, que mesmo sem conseguir chegar ao final, mudou a minha vida: "A paixão segundo G.H" de Clarice Lispector. Na época não sabia compreender o porque desta sensação, muito menos o por que de no prefácio do livro, Clarice advertir "Este livro é como um livro qualquer. Mas eu ficaria contente se fosse lido apenas por pessoas de alma já formada". Na época, a obra me perturbou tanto que serviu como matéria prima para uma peça da qual me orgulho muito chamada "Outros modos de Sentir".

Apesar deste contato com o imaginário da autora, sentia que não compreendia totalmente a agonia da personagem GH. Tentei recomeçar diversas vezes o livro e sempre me senti a margem do que ela sentia, por vezes me soava pesado e chegar ao final do livro me parecia distante, pois era muita informação a ser processada. Segui insistindo, pois mesmo sem saber porque, ela mexia comigo e queria desvendá-la, mas a minha incompreensão de mim, me impedia. Assim, após algumas exaustas tentativas, o coloquei na minha estante de livros a serem lidos, uma ala de meu quarto que só aumentava.

Nos últimos meses fui tomado por uma sede incansável de respostas para tudo, e finalmente aquela ala de obras que eu não compreendia me fizeram a companhia necessária num período de comunhão comigo mesmo. Era o momento exato de conversar com ela, e hoje GH me é tão próxima, que não senti mais peso ao lê-la, ao contrário, ela me passou tanta compreensão, que me deixou mais leves as mazelas. Compreendi a diferença entre livros de bolso, que são lidos e passados de mão em mão sem nada dizerem, e de autênticas obras, que mesmo de difícil compreensão, quando tentamos desbravá-las, sentimos necessidade de modificar a nós mesmos, lutando contra nosso ego, nossa falsa sensação de auto-valor, que exacerba, cega e afasta a felicidade.

Ainda no prefácio, Clarice adiciona que devem ler somente pessoas que "saibam que a aproximação, de que quer que seja, se faz gradualmente e penosamente - atravessando inclusive o oposto daquilo que se vai aproximar." Em outras palavras, negar a si mesmo aquilo que o impulssiona a evoluir em detrimento de sua zona de conforto. Existem obras que surgem em nossas vidas para ficar e outras que surgem só para nos fazer caminhar, na maioria das vezes não teremos escolha, quando o mundo se colocar no meio de nossos caminhos através de erros e falta de compreensão de nosso próprio caminhar, é preciso silenciar e ouvir a si mesmo, para enxergar que aqueles impulsos o fizeram andar e sem perceber, realizar que você já chegou a outro lugar. É nesta hora, que se deve pesar, o tanto de si que está pronto para vivênciar uma obra, ou se ainda é preciso matar mais tempo com livros de bolso.

Outros Modos de Sentir: https://vimeo.com/41981310