sábado, 21 de dezembro de 2013

Epifanías aéreas ou morando no ar

Caminhando pelas ruas me deparei com o faról de quatro faixas em vermelho piscante. Quantas faixas conseguiria atravessar? Duas no máximo? Então por que atravessar se não conseguirei chegar ao outro lado? Para avançar um pouco mais? Talvez, mas por que não aguardar o momento certo, para em uma tacada chegar ao outro lado e não me ver ilhado no meio de 1 metrô de concreto com pedaços de lata passando em alta velocidade ao meu lado? 

São duas maneiras de chegar lá. Hoje, preferi esperar, uma dádiva conquistada por alguém ansioso de nascença, que se pá já saiu calculadamente chorando só para mostrar atitude e evitar levar uns belos safanões do médico. Pois parado a aguardar, fui tomado pela presença de um pássaro sobrevoando minha existência. Ele dava vôos rasantes, cortava o ar com pura liberdade e retomava com força subindo cada vez mais alto. As vezes se soltava no ar com tanto desprendimento que só o fato de suas asas estarem abertas o faziam subir cada vez mais, ele era um pássaro sábio, e sabia aproveitar sua condição de pássaro.




Enquanto repetia seu ritual, vi nele um atleta, se testando cada vez mais a cada circuito que repetia no ar, vi nele um aventureiro, que ousava não pousar um só momento e se jogava naquela sensação cada vez com mais intensidade, vi nele um artista, que bailava no ar e que com a poesia de seus movimentos prendeu minha atenção e por último vi a mim e a você, que como qualquer outro ser aproveitava aqueles curtos momentos de sintonia com os elementos, antes de retornar para o instinto inverso da condição de sua existência contínua.

Sinal verde, volto a caminhar.