Caminhando pelas ruas me deparei
com o faról de quatro faixas em vermelho piscante. Quantas faixas conseguiria
atravessar? Duas no máximo? Então por que atravessar se não conseguirei chegar
ao outro lado? Para avançar um pouco mais? Talvez, mas por que não aguardar o
momento certo, para em uma tacada chegar ao outro lado e não me ver ilhado no
meio de 1 metrô de concreto com pedaços de lata passando em alta velocidade ao meu
lado?
São duas maneiras de chegar lá.
Hoje, preferi esperar, uma dádiva conquistada por alguém ansioso de nascença,
que se pá já saiu calculadamente chorando só para mostrar atitude e evitar
levar uns belos safanões do médico. Pois parado a aguardar, fui tomado pela
presença de um pássaro sobrevoando minha existência. Ele dava vôos rasantes,
cortava o ar com pura liberdade e retomava com força subindo cada vez mais
alto. As vezes se soltava no ar com tanto desprendimento que só o fato de suas
asas estarem abertas o faziam subir cada vez mais, ele era um pássaro sábio, e
sabia aproveitar sua condição de pássaro.
Enquanto repetia seu ritual, vi
nele um atleta, se testando cada vez mais a cada circuito que repetia no ar, vi
nele um aventureiro, que ousava não pousar um só momento e se jogava naquela
sensação cada vez com mais intensidade, vi nele um artista, que bailava no ar e
que com a poesia de seus movimentos prendeu minha atenção e por último vi a mim
e a você, que como qualquer outro ser aproveitava aqueles curtos momentos de
sintonia com os elementos, antes de retornar para o instinto inverso da condição de sua
existência contínua.
Sinal verde, volto a caminhar.