terça-feira, 31 de julho de 2012

anima!

Vi alguns curtas do anima mundi neste findie. O curta "Head over Heels" foi o grande vencedor, faturando uma vaga na corrida para o oscar. A animação é realmente incrível, conta a história de um casal e suas diferenças, teve um resultado super sensível e com uma arte simples e bonita, rendeu palmas e alguns suspiros da platéia. Merecido!


Algumas outras também merecem destaque, algumas pelo humor, outras pela técnica, mas vou postar só mais algumas, mais para deixar guardadas aqui as referências!



segunda-feira, 23 de julho de 2012

pagando por sexo


Premiado autor de histórias em quadrinhos só transa com prostitutas há mais de uma década. Em um livro inteligente e engraçado, ele critica o amor romântico e defende a normalidade da prostituição.
Será minha próxima leitura. Segue texto publicado pela jornalista Eliane Brum para a revista Época, em que o autor levanta alguns mitos e reflexões em torno da prostituição.




1) Você é dono do seu corpo. Dizer “Quero transar com você porque você vai me dar dinheiro” é tão moral quanto dizer “Quero transar com você porque eu o amo”. E isso tanto para homens quanto para mulheres.
2) Os clientes não compram as prostitutas. Quando alguém compra um livro, leva-o para casa e faz o que quiser com ele, por quanto tempo quiser. Com uma prostituta, você paga para transar durante um tempo determinado, limitado por aquilo que é combinado, e depois se separa dela. Nenhum cliente faz o que quiser com uma prostituta – nem é dono dela.
3) A violência, minoritária, é tão presente no sexo pago como no sexo não pago. Existem clientes cretinos na mesma proporção que existem maridos e namorados cretinos, que ignoram os pedidos e os limites estabelecidos pelas mulheres. Assim como há aqueles que extrapolam e as espancam. Para reprimir esse comportamento, há leis. Mas, se concluirmos que devemos criminalizar ou condenar o sexo pago porque alguns homens são cretinos e outros são violentos, então é preciso criminalizar ou condenar também o casamento e o sexo não pago. Da mesma forma, com relação ao tipo de trabalho, qualquer um acharia descabido terminar com a profissão de taxista porque alguns são assaltados, feridos e até mortos por assaltantes travestidos de clientes.
4) Não são apenas as prostitutas que muitas vezes transam sem desejo. Muitas pessoas, em relacionamentos amorosos, também transam sem vontade. A frase “Não quero transar com esse cara, mas vou transar porque preciso de dinheiro” é tão moral quanto “Não quero transar agora, mas vou transar porque ele é meu namorado e eu o amo” ou “Não sinto mais desejo pelo meu marido, mas vou transar pelo bem do nosso casamento”.  
5) A prostituição não destrói a dignidade das prostitutas. A vergonha que algumas prostitutas sentem por conta da profissão é provocada pela interiorização do preconceito enfrentado na sociedade – e não pela venda do sexo em si. Assim como no passado (e ainda hoje, em alguns casos) os homossexuais sentiam vergonha, depressão, culpa e repulsa por sua orientação sexual. Isso não significava que ser gay era errado – e sim que muitos homossexuais interiorizavam os valores da cultura em que viviam, assumindo o preconceito da sociedade como vergonha e como culpa. 
6) A diferença com que a sociedade trata a prostituição masculina mostra que o preconceito, como sempre, é com relação à autonomia das mulheres. Em geral, os adversários da prostituição feminina ignoram a masculina. A razão é que os argumentos usados para condenar a prostituição feminina soariam ridículos se aplicados à masculina. Nossa cultura acredita que os homens controlam a própria sexualidade. E, se um homem se coloca em uma situação potencialmente arriscada, a sociedade compreende como um comportamento inerente à natureza masculina. Já, com relação às mulheres, não. Elas são sempre vítimas, e há sempre alguém - mesmo que outras mulheres - apto a determinar o que é melhor para elas. 
7) A prostituição é uma escolha. Setores contrários à prostituição afirmam que não há escolha real se a mulher tem de eleger entre ganhar um salário baixo em um emprego pouco valorizado ou se prostituir, assim como não haveria escolha se a mulher se prostitui supostamente porque foi abusada na infância, caso de parte das prostitutas (como de parte das mulheres). Mas uma escolha é uma escolha, ainda que seja uma escolha difícil. Dizer que adultos não teriam o direito de escolha porque tiveram uma infância difícil é um terreno perigoso. Estas mulheres que não poderiam escolher pelo sexo pago não estariam, então, aptas a fazer qualquer escolha sexual, mesmo amorosa, por causa do seu passado. Da mesma forma que a realidade impõe escolhas difíceis para ganhar a vida o tempo todo, tanto para homens como para mulheres. E do mesmo modo como há quem gosta do que faz e há quem não gosta em qualquer profissão. Todas as pessoas – e não só as prostitutas – são fruto de suas circunstâncias e do sentido que conseguiram dar ao vivido. Alguém tem o direito de determinar quais adultos estão aptos e quais não estão aptos a fazer escolhas sobre a sua própria vida, ainda que sejam escolhas que não agradem aos outros?

sexta-feira, 13 de julho de 2012

CONCURSO CAIXA DE CURTAS


Meu curta está participando do "concurso caixa de curtas" na categoria ficção. O festival online é latino e contém filmes de diversas nacionalidades, tem bastante coisa interessante. 

Para quem ainda não viu, é uma boa oportunidade, para quem já viu e gostou, passa lá e dá uma forcinha! A votação vai até 22/08/2012!



domingo, 1 de julho de 2012

Violeta se fue a los cielos

Vou começar pelo final, a tela negra dos créditos permanece em silêncio, não sei por quanto tempo porque rapidamente saí da sala de cinema. Geralmente gosto de ficar ouvindo a música dos créditos até o final, muitas vezes ela foi composta especialmente para a obra, e se está naquele ponto do filme, é porque tem um papel reflexivo importante sobre tudo o que você acabou de ver, é um complemento sem imagens, a baqueta que passa para o espectador. Pois bem, o silêncio e a sensação que tive ao final de "Violeta foi para o céu" me bastou para sair rápido antes de ouvir qualquer comentário que me fizesse odiar a humanidade. Sim, porque as vezes parece que as pessoas se sentem obrigadas a emitir comentários ao final de um filme em voz alta, são os críticos da era twitter, que emitem hastags e frases curtas completamente sem contexto, que as vezes te doem a espinha ao demonstrar a total falta de sensibilidade de algumas pessoas. Pois bem, saí e nada ouvi, ufa! 



Uma coisa é fato, conheci muitas figuras interessantes espalhadas por outras culturas deste mundo e até de meu próprio país através do cinema. A sétima arte teve esse papel em minha jornada, quantas vezes fiquei fissurado por uma trilha sonora e assim conheci um grande músico, quantas vezes vi um retrato interessante sobre uma personalidade e isso me aguçou pesquisar mais sobre ela. Esse é o caso de Violeta Parra, confesso que nunca havia ouvido falar de sua música, mas que depois do filme sigo aguçado. Em um tempo em que somos borbardeados por personagens voadores, que soltam raios e camuflam suas culturas em busca de público, é bacana se deparar com figuras desconhecidas de algumas gerações e que tanto tem a mostrar. 


Em uma das cenas mais bonitas e delicadas que já vi, a personagem de Violeta chega depois de uma longa caminhada pelas colinas à casa de uma senhora que detinha um largo conhecimento de cantigas folclóricas chilenas. A pouco seu filho havia lhe perguntando "e se nunca a encontrarmos?" e ela responde "Aí as pessoas nunca vão conhecer suas músicas incríveis". Pois nessa cena, Violeta chega  justo no momento em que a matriarca está sendo colocada em um caixão. Ela assiste a cena em silêncio, em seguida vemos um gravador sendo ligado e ficamos vendo a fita rodar enquanto contemplamos o silêncio daquele momento. De fato jamais conheceremos as cantigas daquela senhora, mas a homenagem está ali feita. A cena é incrível. 

Muitos outros momentos me deixaram com a mesma sensação que neste trecho. A de leveza e ao mesmo tempo uma estranha densidade, é o que chamaria de poesia audiovisual. O filme nos transporta a construções metafóricas tão bem construídas, que dá um gás além da forte história que a personagem já carrega em si.