domingo, 1 de julho de 2012

Violeta se fue a los cielos

Vou começar pelo final, a tela negra dos créditos permanece em silêncio, não sei por quanto tempo porque rapidamente saí da sala de cinema. Geralmente gosto de ficar ouvindo a música dos créditos até o final, muitas vezes ela foi composta especialmente para a obra, e se está naquele ponto do filme, é porque tem um papel reflexivo importante sobre tudo o que você acabou de ver, é um complemento sem imagens, a baqueta que passa para o espectador. Pois bem, o silêncio e a sensação que tive ao final de "Violeta foi para o céu" me bastou para sair rápido antes de ouvir qualquer comentário que me fizesse odiar a humanidade. Sim, porque as vezes parece que as pessoas se sentem obrigadas a emitir comentários ao final de um filme em voz alta, são os críticos da era twitter, que emitem hastags e frases curtas completamente sem contexto, que as vezes te doem a espinha ao demonstrar a total falta de sensibilidade de algumas pessoas. Pois bem, saí e nada ouvi, ufa! 



Uma coisa é fato, conheci muitas figuras interessantes espalhadas por outras culturas deste mundo e até de meu próprio país através do cinema. A sétima arte teve esse papel em minha jornada, quantas vezes fiquei fissurado por uma trilha sonora e assim conheci um grande músico, quantas vezes vi um retrato interessante sobre uma personalidade e isso me aguçou pesquisar mais sobre ela. Esse é o caso de Violeta Parra, confesso que nunca havia ouvido falar de sua música, mas que depois do filme sigo aguçado. Em um tempo em que somos borbardeados por personagens voadores, que soltam raios e camuflam suas culturas em busca de público, é bacana se deparar com figuras desconhecidas de algumas gerações e que tanto tem a mostrar. 


Em uma das cenas mais bonitas e delicadas que já vi, a personagem de Violeta chega depois de uma longa caminhada pelas colinas à casa de uma senhora que detinha um largo conhecimento de cantigas folclóricas chilenas. A pouco seu filho havia lhe perguntando "e se nunca a encontrarmos?" e ela responde "Aí as pessoas nunca vão conhecer suas músicas incríveis". Pois nessa cena, Violeta chega  justo no momento em que a matriarca está sendo colocada em um caixão. Ela assiste a cena em silêncio, em seguida vemos um gravador sendo ligado e ficamos vendo a fita rodar enquanto contemplamos o silêncio daquele momento. De fato jamais conheceremos as cantigas daquela senhora, mas a homenagem está ali feita. A cena é incrível. 

Muitos outros momentos me deixaram com a mesma sensação que neste trecho. A de leveza e ao mesmo tempo uma estranha densidade, é o que chamaria de poesia audiovisual. O filme nos transporta a construções metafóricas tão bem construídas, que dá um gás além da forte história que a personagem já carrega em si.