sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Madrid


Estava devendo um depoimento da cidade, e como promessa é dívida, aqui vai meu pagamento para ela que foi minha segunda casa. Oito meses é muito e pouco tempo, depende da maneira que você os viveu. Para mim, os 8 meses que vivi por lás foram uma vida a parte. Se pude viver fortes emoções nos poucos dias que passei por outras cidades européias, imagine o tanto de coisas que me aconteceram nesses 8 meses em Madrid. Tenho um bocado de coisas para dizer da cidade.

Madrid foi minha terra de descoberta, poderia acontecer em qualquer lugar, mas foi lá e por isso terei eternamente um carinho a parte. Exercitei amar-me, a ligar o foda-se, a testar-me, amar o mundo, aceitar ajuda, negar ajuda e me resolver para crescer, conhecer pessoas independente da idade, da classe social, do sexo, dos interesses intelectuais. Para dizer a verdade percebi que as vezes quanto mais a gente foca a busca por esses interesses, menos a gente encontra gente interessante, as mais significativas mesmo, que lembrarei para sempre, foram as que conheci por acaso e que em relações curtas me ensinaram tanto em pouco tempo.

Quando viajava para outras cidades, sempre voltava louco de saudades de Madrid, ela me acolheu em pequenos pontos que foram fundamentais para que me identificasse e quizesse estar lá. Uma das cidades que mais lê do mundo, aliás isso foi uma coisa que fiz muito por lá, é um hábito que não tinha cotidianamente e que se propaga, ler no metrô, na espera do bar, em qualquer momento, ocupa aquele tempo morto do dia e eleva sua mente para outros mundos. Li tanto e estudei tanto por lá em tão pouco tempo que em um momento até entrei em parafuso! Ha! Agora estou destorneando para começar de novo. É uma das coisas que admiro na cidade, ela inspira cultura, tem parques incríveis e um sistema de transporte impecável que deveria servir de exemplo para projetos nas metrópoles brasileiras.

O que ela fica devendo no quesito noite, com um déficit de festas que englobem diversas tribos sem deslocamentos e julgamentos, compensa na arte alternativa. Vaguei discretamente por todos os nichos culturais da cidade, tudo gratuito, desde os espaços mais “elitizados” e modernos como o Matadeiro e os mais independentes como a Tabacalera. Vi muita coisa interessante, algumas poucas propostas batidas e outras bastante inovadoras. Uma coisa é fato, a vida artística madrilenha acontece e muito.

Algo que demorei para sacar um pouco sobre a cidade, e que fica a dica para futuros viajantes, é que as pessoas não são grosseiras, elas são desse jeito mesmo, um bocado enfadadas com a vida, mas é maneira deles agirem, é a personalidade forte do espanhól. Quando percebi isso, também comecei a jogar as coisas e falar alto no mercado! Ha! Talvez eu tivesse sido mais feliz se tivesse aprendido a ser grosso logo nos primeiros dias! Ha! É libertador! =)

Saí de Madrid com a certeza de que deixei alguns desapontamentos no ar. Mas talvez esse tenha sido meu papel neste momento. É um lugar lindo, extremamente organizado, modelo de qualidade de vida, mas que precisa mudar algumas pequenas coisas para ser uma cidade perfeita, e que sinceramente não adiantaria mudar só para mim, tem que ser para todos que a escolherem como lar. Não é um problema dela em específico, mas sim da mentalidade de uma parcela européia. Talvez eu tenha voltado tão apressado para São Paulo porque estava explodindo uma identidade que quero lapidar devagar e a brasileira, é uma questão de ancestralidade.

Mas uma coisa é fato, Madrid é incrível e se ela ainda me quiser, um dia volto, a passeio, a trabalho, para umas loucurinhas, quem sabe do amanhã?!

Um grande obrigado a cidade e a todos que passaram por meu caminho nessa louca jornada!!

3 X Madrid! =D